Primeiros parágrafos
«O corpo da mulher rola para dentro de casa como um embrulho, as roupas encardidas pela humidade. O cabelo está de tal modo entrelaçado que nem a água quente o conseguirá desembaraçar com a lavagem. Estende-se no chão da sala, exausta. O primeiro movimento que faz é mostrar as cicatrizes dos braços e apontar para alguns sinais junto do umbigo. A carpete fica molhada ao contacto com a roupa, desenhando uma pequena silhueta, uma mancha que há-de ficar para sempre gravada naquele espaço do chão. Mateus está de pé junto a ela, descalço, incapaz de dizer ou fazer o que quer que seja. Sente o calor subir-lhe pelas pernas e as mãos trémulas. Deixa a porta aberta. Das escadas vêm uns grunhidos, alguém grita para que acendam a luz, alguém apanhado na escuridão entre dois andares. Um dos vizinhos abre a porta e pergunta se querem que ele desça com uma pilha. Quem grita é a mesma mulher que ali passa diariamente cheia de sacos de plástico e que agora ameaça deitar fogo ao prédio.»
[in A Rapariga sem Carne, de Jaime Rocha, Relógio d’Água, 2012]
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