Dois poemas de Carlos Alberto Machado
São três horas da madrugada
o comboio galga quilómetros
diz-se
as metáforas são o que são
e isso
sente-se
sobretudo nas curvas
mais apertadas
metaforicamente
chiando e chispando
de cada vez que a metáfora
galopante galopando cada quilómetro
entra numa dessas curvas de forma
friccionantemente indelicada
(violenta?) felizmente
tudo isto não passa
de uma ilusão é uma metáfora
demasiado arriscada para tão pouco
e velho comboio
ele que só gosta de deslizar
como um cisne
em largo e calmo
verde lago
metonímico.
***
O meu corpo enrosca-se na noite do teu corpo
adormecidas as minhas palavras ondulam na tua boca
da tua respiração soltam-se borboletas azuis
acordado sigo ainda os seus invisíveis trajectos
é neles que leio as palavras esquecidas na noite
uso cautelosamente o antigo saber divinatório
enquanto danças sobre a terra vestida de lavanda.
[in Registo Civil – poesia reunida, Assírio & Alvim, 2009]
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One Response to “Dois poemas de Carlos Alberto Machado”
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Só chegou ontem à livraria onde trabalho. Daqui a 11 meses, quando se listarem os melhores de 2010, como será? Irá alguém lembrar-se deste “Registo” datado de Novembro de 2009?