Quatro poemas de Inês Lourenço
ARTE POÉTICA I
Do texto não as pinças mas o lábio
da trama não o fio mas o hausto
do rosto não o facto mas o feixe
do timbre não o fundo mas a fenda
da venda não a fresta
mais que o laço.
***
ÁRIA
É belo o tempo de Inverno,
no silêncio, a lenha húmida
das maternas canções da chuva.
Na lentidão de Janeiro
fica mais longe a morte. As aves
habitam nos beirais
como príncipes destronados.
***
PENHORES
Aros esmaecidos, os anéis repousam
em brilhos desertos. Quantas
histórias banais, com o letreiro de
ouro usado. Nessa dúbia cor, uma
nobre tristeza resgata
os formatos vulgares e desenha
velhas parábolas
de purgatório e redenção.
***
SESSÃO LITERÁRIA
Falam de perfeição. De perseguir
ao menos em verso, esse vórtice de luzes
e excelsa beleza ou
beatitude que logrará
a canónica obra. Velho
enredo já sem graça divina
nem humana.
Melhor falassem
das batatas novas, que
costumam aparecer
antes da Páscoa.
[in Câmara Escura – Uma Antologia, com selecção de Manuel de Freitas, Língua Morta, 2012]
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