Lançamento de ‘A Caminho do Vulcão’
O livro de Marcelo Teixeira, que ficciona o encontro em Lisboa de Fernando Pessoa e Malcolm Lowry, dois escritores movidos a álcool e desespero, vai ser lançado esta noite, a partir das 22h00, no Auditório de Alfornelos (Amadora).
A obra será apresentada por Antonio Sarabia, escritor mexicano a viver há vários anos em Lisboa, enquanto o Grupo de Teatro Passagem de Nível declamará poemas de Fernando Pessoa e Malcolm Lowry, ao som do piano de Jaime Oliveira.
No final, «para brindar à amizade, às letras e aos dois génios da literatura mundial», haverá Ginjinha Pessoana e Mezcalm Lowry.
Três poemas alcoólicos de Malcolm Lowry
OS BÊBADOS
O ruído da morte está neste bar desolado
Onde a tranquilidade se senta inclinada sobre a sua oração
E a música abriga o sonho do amante
Mas quando moeda alguma compra este fundo desespero
Nesta casa tão solitária
E de todos os destinos o mais solitário
Onde nenhuma música eléctrica destrói o bater
Dos corações duas vezes quebrados mas agora reunidos
Pelo cirurgião da paz no peróneo da desgraça
Penetra mais profundamente do que os trompetes
O movimento da mente que aí faz a sua teia
Onde as desordens são simples como o túmulo
E a aranha da vida se senta, dormindo.
O ÚLTIMO HOMEM NO DÔME
Onde está o sublime bêbado? Será o grande bêbado?
Este pequeno mistério imponderável
Perturba-me sempre à meia-noite:
– Para onde foi, para onde levou a sua caneca?
Para onde foram eles, os meus amigos, os que não têm porto?
Já não se lamentam nos bares, já não se fazem ao mar;
Um estremecimento da vontade e então podem sonhar,
Vivendo enfim as vidas que sempre ansiaram –
Intermináveis corredores de botas para lamber,
Ou no fim de todos eles o Pope com a sua biqueira.
Onde estão os teus amigos, seu tolo?, só te resta um,
E também esse já te enjoa –
Embora muito menos que os outros; e isto sei muito bem,
Uma vez que sou o último bêbado: bebo sozinho.
UMA ORAÇÃO
Deus, dá de beber a estes bêbados que acordam ao amanhecer
Balbuciando sobre o peito de Belzebu, destroçados,
Espiando uma vez mais, através das janelas,
A vaga e terrível ponte quebrada do dia.
[in As Cantinas e Outros Poemas do Álcool e do Mar, seleccionados e traduzidos por José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, 2008]
Debaixo de ‘Debaixo do Vulcão’
Malcolm Lowry
Late of the Bowery
His prose was flowery
And often glowery
He lived, nightly, and drank, daily,
And died playing the ukelele.
Eis o epitáfio de Malcolm Lowry, o escritor inglês que entrou para o panteão da literatura do século XX com um único romance: Debaixo do Vulcão (1947). No blogue da Fundação Malcolm Lowry encontramos tudo e mais alguma coisa sobre o homem que mergulhou no México através de uma espiral de álcool e desespero. Há fotografias dos cenários descritos no livro, comentários sobre a obra, capas das várias edições, notícias dos colóquios, imagens de Cuernavaca e murais de Diego Rivera, peregrinações aos locais por onde Lowry passou e apontamentos biográficos. Um maná para fanáticos de Under the Volcano e não só.
PS — Da fundação e da equipa que redige o blogue faz parte um português: Marcelo Teixeira (editor da Oficina do Livro, onde é responsável pela excelente colecção Ovelha Negra, dedicada à literatura latino-americana).